A princípio estava fazendo esse texto para uma outra plataforma. Mas senti que era o correto compartilhar ele aqui. Tenho explorado formatos, e quero continuar com diversidade de estilos e temas que me interessem.
A carta de hoje é sobre a paralisação frente ao olhar do outro.
Como é não conseguir fazer nada na frente de outra pessoa? Como se o olhar de outra pessoa te impedisse de fazer coisas que são importantes para você? Já passou por isso?
Esses momentos de paralisação e ansiedade podem trazer sofrimento e prejuízos na vida pessoal e profissional. Projetos importantes podem ser paralisados por não conseguir ter forças para romper com o medo.
Gostaria de falar um pouco sobre esse sentimento e propor formas de pensarmos sobre saídas para isso que se tornou um problema.
Gosto de pensar em pequenas mudanças possíveis. E com elas sendo realizadas de forma repetida e conscientemente é possível uma atualização para que o olhar do outro não seja tão pesado.
O erro é intolerável
Primeiramente quero começar com uma reflexão para explorarmos como você se enxerga nos diferentes trabalhos ou esforços que realiza.
Vou usar um exemplo pessoal meu. Quando eu comecei a desenhar, eu não conseguia me soltar quando o fazia na frente de outras pessoas. Me sentia rígido e perfeccionista. Eu não admitia a possibilidade do erro. O que normalmente acontecia era eu desistir totalmente de desenhar.
Atualmente, o que tem sido muito mais saudável, é abrir mão do perfeccionismo e de fato se abrir para o erro. Parece fácil falar, mas passei por muitas dificuldades até chegar a esse ponto. E ainda sofro com a questão de desempenho em outras áreas. Mas o que se aprende em um lugar também pode ser aplicado a outro.
E de onde veio essa pressão por "ter que ser bom"? Cada um vai ter suas próprias vivencias que fundamentam essa pressão. Mas também percebo uma exigência cada vez maior das pessoas por desempenho. Em qualquer lugar.
Você já se pegou “desempenhando”, mesmo em atividades de lazer? Esse é um primeiro ponto a se pensar.
Controle a todo custo
Vamos chamar essas situações de medo frente ao outro de ansiedade de desempenho ou performance.
Muitas vezes ao se sentir observado pode surgir um sentimento de julgamento ou de medo. Como se alguém o estivesse avaliando ou fosse te prejudicar de alguma forma. É importante entender e validar isso como um sentimento.
Além dos sentimentos, o pensamento pode aparecer também com ensaios mentais recorrentes tentando antecipar os erros para que eles não aconteçam. Esse fenômeno é chamado de hiperreflexão.
Quando você está hiper reflexivo, o pensamento se torna prejudicial pelo excesso. Você se afasta da espontaneidade, e começa até mesmo a bloquear aquilo que se deseja alcançar.
A hiperreflexão é uma tentativa de controle da situação pela racionalidade. O controle aumenta a ansiedade. Ou seja, o desempenho despenca pelo excesso de ansiedade acumulada.
Para continuar com o meu exemplo com o desenho, é como se eu ensaiasse mentalmente todos os meus traços ou planejasse demais como o desenho seria feito. Ao errar, o que naturalmente vai acontecer, a frustração se torna grande demais.
Na tentativa de fazer bem demais o que quer fazer, se perde a fluidez e a essência do que é vivido.
Correr é uma opção?
Quando os pensamentos excessivos sobre o medo de errar estão muito cristalizados, eles impactam profundamente a forma como você se comporta. A pessoa interpreta o desempenho frente a outra pessoa como um problema a ser resolvido. Ela se sente em perigo e corre para sair dele. Esses são os comportamentos de fuga ou esquiva.
Fuga é quando a pessoa abandona o que estava fazendo ou o ambiente onde estava.
A esquiva é quando a pessoa evita entrar em contato com isso que provoca ansiedade.
Veja que tudo isso se torna um problema de evitação. Você começa a evitar essas coisas que dão desconforto e perde a oportunidade de diminuí-las.
Suas possibilidades de ser e agir no mundo ficam limitadas a esses comportamentos.
Responsabilidade frente às atitudes
Tomada a consciência de que esses comportamentos de evitação viram problemas a serem resolvidos, a gente começa pensar mais sobre e escolhe fazer algumas estratégias. Para o bem ou para o mal.
Algumas delas podem ser inadequadas e reforçar esses comportamentos para que eles aconteçam mais vezes.
Eu quando fugia ou esquivava das oportunidades de desenhar estava aumentando não só minha ansiedade frente ao desenho em si, mas em todas as áreas possíveis que eu interpretasse como uma performance frente a outra pessoa.
Um outro exemplo é o de terceirizar responsabilidades. Quando uma outra pessoa faz o que deveria ser feito por você.
Infelizmente é uma perda de oportunidade para melhorar a situação como um todo.
Não tem como escapar da necessidade de se responsabilizar por essas atitudes.
Pensar menos, pensar melhor
Uma forma de fazer com que as atitudes sejam mais coerentes com o processo de mudança, é pela reflexão.
Aqui tem um detalhe importante. Diferente da hiperreflexão, a reflexão é intencional visando encontrar caminhos de possibilidades atrelado ao mundo real. Ela promove crescimento e adaptação.
A hiperreflexão tem foco no desempenho, no julgamento, nos aspectos negativos que possam acontecer. Ela é excessiva e prejudicial.
Percebo pacientes que se sentem motivados a tomar ações diferentes depois das reflexões que fazemos em sessões. Eles se sentem mais confortáveis nesses ambientes e e conseguem tirar maior proveito deles.
Pela reflexão consciente é possível realizar ajustes nas atitudes frentes as circunstancias.
É como se fosse uma sessão "estendida", uma continuidade.
Necessidade de comprometimento
E como nós atualizamos essas atitudes pela reflexão consciente? Como enfrentar o medo do julgamento e agir diante do que é importante para você?
Segue alguns passos do que pode ser feito, a começar pela busca do aqui-e-agora.
Relaxamento para diminuir a ansiedade e melhorar o desempenho necessário.
Aqui são os momentos de respiração. É respirar e voltar para o momento presente. Estar atento ao que se passa pela sua consciência ajuda demais na percepção de sentimentos e pensamentos.
Para isso, precisamos de uma postura de não engajamento e não julgamento do que você sente ou pensa. Quanto mais essa postura estiver internalizada, mais ela pode ajudar a se sentir menos preso nos pensamentos excessivos que aumentam a ansiedade.
Reconhecer as pequenas vitórias é essencial para o comprometimento com a mudança.
Importante depois que os momentos de exposição passarem, um olhar retrospectivo sobre o que aconteceu. O que pensou e como se sentiu, mas principalmente se elogiar pelos esforços realizados. É um esforço para olhar para a sua história e perceber o que geralmente não é visto.
O sentido do "para que você" faz o que faz
Isso significa encontrar a razão pela qual você enfrenta essas dificuldades. Deixar isso claro é importante para despertar a motivação e captação do sentido por trás das ações que tem tomado e vai tomar.
O sentido do motivo que eu desenho é só meu. Eu só o descobri enquanto estava lidando com o sofrimento de querer e não poder. Ter descoberto de forma clara a importância daquela atividade para mim, trouxe recursos internos necessários para mudar a minha realidade. Eu consegui me afastar do pensamento excessivo do desempenho e percebi o como eu era impactado positivamente por aquilo. O olhar foi para onde o desenho me levaria. Para que pessoas ou lugares eu poderia alcançar.
O objetivo é aumentar as possibilidades de ser
Quando o medo está muito cristalizado, as possibilidades de ser diminuem. O futuro de sentido fica impossibilitado.
Todas essas estratégias vão trazer oportunidades de refletir sobre seus comportamentos para não reforçar os que são indesejados.
Será possível questionar os pensamentos que podem estar te sabotando, e mudar a perspectiva em relação à pensamentos negativos. Com a tomada de consciência é o momento de mudar o jogo. De ver o realmente pode ser feito de diferente.
Você enfrenta ou enfrentou esse tipo de dificuldade? Compartilhe comigo o que te ajudou a lidar.
Espero que essa carta e as dicas que dei possam ajudar com essas dificuldades. E sempre que sentir que é difícil demais dar conta disso sozinho, procure a ajuda de um profissional para isso. Eu fico a disposição se assim desejar.
O que vem por aí?
Gostaria de saber de quem tem lido meus textos, o que tem achado? Algum formato que já fiz te apetece mais, ou gostaria que eu tentasse algo diferente? Ficaria muito grato com seu feedback.
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Obrigado pela leitura. Espero que tenha trazido um momento de qualidade. Te vejo em breve. Até mais!
Me ensina a ser didática desse jeito? Que texto!